Um dia em que tentarei não ficar triste, não chorar, não desejar que passe mais rápido que qualquer outro. Uma dia que deveria ser de comemoração, se não fosse tão vazio. Um dia que fecharei os ouvidos para as músicas que serão dedicadas, que tocaram em todos os lugares que provavelmente, passarei. Uma dia em que marca sua ausência em quatro meses.
É o primeiro de muitos que ainda passarei. Talvez o mais dolorido, mais difícil de encarar. O primeiro sem tua presença, sem ter o êxtase de não saber o que comprar para presenteá-lo. A falta que essa indecisão traz, aumenta em pequenas e constantes dores. O primeiro que não terei teu colo para sentar, teu cheiro para roubar, teu rosto para encher de beijos. A falta de te ouvir chegar em casa, passos ligeiros e já arrastado, só cresce a cada dia. O primeiro em que não combinarei com meus irmãos o melhor horário para surpreendê-lo com um embrulho colorido. A falta de ouvir tua voz grossa, cheia de autoridade, porém mansa e leve ao se dirigir a mim, torna meus dias incompleto. O primeiro em que não desejarei tímida, ‘feliz dia’, já que não estávamos mais tão próximos.
O primeiro em que desejo do fundo do coração, tê-lo por apenas 30 minutos sequer. Para dizê-lo tudo o que não foi dito. Para fazer aquilo que todo mundo diz que devemos fazer, mas sempre deixamos para depois. Para sentir sua pele, seu cheiro, seu colo de Pai. Para ter sua compreensão e respeito, para mostrar-lhe a mulher maravilhosa que ajudou a criar. Para ouvir de sua boca, o quanto está orgulhoso com meu crescimento pessoal e profissional e quer me ver feliz, independente de qualquer coisa. Que não concorda com os absurdos que ouço calada e estará sempre ao meu lado. Talvez ele não tenha sido o melhor pai do mundo, mas foi com certeza, foi o melhor pai que ele pode ser.
Não lembro a ultima vez que disse o quanto o amava, nem sei se já existiu esse dia. Mas tenho certeza que hoje sabes o quanto esse sentimento pulsava em meu peito. Mesmo incompreendido, indiferente nos momentos de revolta, sem vez nas decisões para futuro. Sei que hoje me entende da forma que eu sempre quis explicar e nunca tive oportunidade. Afinal, você também não me dava espaço para conversar minhas aflições de adolescente, nem contar meus projetos de vida adulta.
Sempre desejei , mais do que o ar que hoje respiro, oportunidade de mostrar-me por dentro, que fosse de peito aberto, com compreensão paternal/maternal, por mais que não conseguisse suprir as expectativas. Temos os devidos valores a nos atribuídos, todos somos merecedores da ‘dúvida’. Sei que hoje não o envergonho, sei que tens por mim, uma admiração que jamais poderia, por agora, conhecer-me tão a fundo, todos os pequenos espaços deixados na alma, de uma vida inteira.
Continuo sua pequena, a garotinha de cachos dourados e sorriso fácil de anos atrás. A menininha que te enchia de beijos, carinhos e te solicitava com um nome peculiar. A sua caçula. Hoje, uma mulher buscando independência, direitos e conquistando espaço social. Cheia de marcas deixadas pelo passado de uma relação dramática com a família, mas que ainda pensa em cada um com feições de reconquista platônica. Sei que hoje, me conhece tão bem quanto a mim mesma.
Ainda não consigo elevar minhas orações para que alcance a plenitude em que vives. Sei que entende o quanto luto para isso acontecer naturalmente um dia. Por hoje sinta meu amor, carinho, respeito, admiração e profunda saudade.